Há alguns meses, a médica dentista Ana Mexia viu-se obrigada a tomar uma decisão: ou continuava a correr de um lado para o outro, a trabalhar para terceiros, ou tendo já uma carteira de clientes dava o passo seguinte e abria a sua própria clínica. Resultado: em agosto deste ano surgiu a AM Similling [1] – Clínica Dentária Ana Mexia, na zona de Sete Rios, em Lisboa.
“Resolvi arriscar, apesar de não ser fácil”, declara a diretora-clínica. “Achei que neste momento não me iria incomodar continuar a correr de um lado para o outro, a fazer consultas, mas tinha de pensar mais à frente: agora sou nova e não me importo de andar mais cansada. Daqui a 20 anos não teria capacidade de continuar a andar de clínica em clínica, com o mesmo ânimo”. Mas houve outro fator de peso na sua tomada de decisão: “tenho três filhos e dedico-me muito à família”.
Encontrar um espaço na zona de Sete Rios foi ‘perfeito’ porque “vivo aqui e faço a minha vida nesta área”. Além disso, “a clínica onde trabalhava também era nesta zona, daí que as pessoas estão habituadas a vir cá. Tenho pacientes que vêm do outro lado da ponte e até de Guimarães e esses, se fosse para outra área de Lisboa, com certeza que continuariam a vir. Mas há aqueles pacientes que vieram duas ou três vezes, mas têm uma vida confusa e se eu mudasse de zona poderiam não voltar”.
“Estou otimista”
Apesar dos poucos meses de atividade da AM Smiling, e tendo em conta o panorama atual, “o balanço é bom”, salienta a responsável.“Além da medicina dentária, como tenho mais um gabinete aproveitei para oferecer, em termos de serviços, mais uma ou duas especialidades fora da medicina dentária que também têm trazido pessoas. Estou otimista”, declara. Mas nem tudo foi fácil. O processo de abertura da clínica, devido à burocracia, teve momentos complicados. “Na minha opinião, quem quer montar um espaço deve ter o acompanhamento de uma empresa especializada no licenciamento de clínicas senão é complicado”, salvaguarda Ana Mexia.
Quanto à gestão da AM Similing ressalva que “passa muito por mim e acredito que nas clínicas deste tamanho, ou um pouco maiores, que são geridas apenas por gestores, sem a presença ativa do diretor-clínico, as coisas podem não correr bem”. No entanto, “quando passamos para um nível de faturação gigantesco não há dúvida de que, nesse caso, o médico dentista precisa do apoio de um gestor, mas tem sempre de haver um diretor-clínico presente na gestão financeira. Creio mesmo que é a chave do sucesso”, afiança.
Ambiente familiar
Quando questionada em relação ao fator de diferenciação da sua clínica, a médica dentista responde: “tento oferecer um tratamento exclusivo para o paciente em questão. Temos um ambiente familiar na clínica, pois relacionamo-nos com os pacientes: conhecemo-los bem e sabem quem eu sou, quem são os meus médicos e quem é a minha assistente”. E isto para a responsável é fulcral. Aliás, na sua opinião há um certo regressar às origens na medida em que “os pacientes procuram este nível de personalização”.
Deste modo, quando as pessoas chegam à clínica pela primeira vez “passam todas por mim e depois reencaminho para os colegas que trabalham comigo mediante o problema a resolver. Tudo o que sejam cirurgias, implantes e reabilitações orais, estéticas ou não, é comigo”. Já a equipa da clínica é constituída por médicos dentistas que se dedicam à endodontia, periodontia, ortodontia “e, recentemente, juntou-se uma odontopediatra”.
Além da relação estabelecida com quem procura os serviços da AM Smiling, a diferenciação passa também “pelo meu trabalho e pela minha dedicação ao estudo: acho que sem estes dois fatores nada se faz. Todos os dias tento aprender mais e vou fazendo cursos e pós-graduações”.
A música
Ana Mexia dedica-se à área da cirurgia, implantologia e reabilitação oral “cada vez mais na vertente da estética”. Licenciada em Coimbra “fui muito ‘puxada’ para a dentisteria, mas entretanto ia, ainda em estudante, acompanhar as cirurgias do Dr. António Felino. Acabava as aulas às 18h30 e depois o meu pai levava-me ao Porto para poder assistir”. Após se licenciar fez uma pós-graduação em Implantologia Oral na Universidade Internacional da Catalunha, em Barcelona, e “quando terminei vim para Lisboa, conheci o professor Francisco Salvado, estive a trabalhar com ele no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (ISCSEM) e, por isso, sempre estive muito ligada à parte cirúrgica”.
Voltar aos bancos da faculdade para fazer um doutoramento é um dos seus projetos futuros. Mas antes disso há outras prioridades. “No que toca ao futuro, em primeiro lugar está a família, que é o meu grande projeto. Em segundo o trabalho e a clínica; em terceiro o doutoramento e em quarto lugar gravar um disco. Tenho uma série de propostas, mas precisaria de oito horas semanais durante seis meses, o que é difícil”.
Por isso, Ana Mexia está mais inclinada em apostar “na gravação de uma música, fazer um teledisco e publicar no Youtube. A música sempre me acompanhou desde criança e quando andava na faculdade tinha um grupo musical em que só dois dos elementos não eram médicos dentistas”. Apesar de salientar que gosta muito de trabalhar em medicina dentária, “um dos locais onde mais me diverti foi em palco, a cantar”.
“Os bons profissionais vão ter sempre espaço”, declara Ana Mexia. Tendo dado aulas em Coimbra e no ISCSEM, antes e pós-Bolonha, a médica dentista afirma que hoje em dia os alunos saem menos bem preparados das faculdades. Contudo, já existe uma oferta variada de pós-graduações. “É necessário saber fazer o caminho: se não saio bem preparada, tenho de me preparar e se não tenho dinheiro para as pós-graduações lá fora, em Portugal já existem excelentes opções”. Ana Mexia acredita que a chave está na diferenciação: “podemos ser bons em muita coisa, mas não podemos ser bons em tudo”.