Espaço criado de raiz há três anos, a Clínica Dentária Dr.ª Mércia Cabrera tem mesmo uma imagem de marca: a sala de esterilização tem uma janela/montra para a recepção, «para que os clientes possam ver todo o processo», revela a médica dentista.
Dispondo actualmente de um gabinete – embora esteja prevista a criação de mais um – nesta clínica os pacientes encontram resposta para todos os seus problemas dentários, «excepto implantes». Também as crianças e a odontopediatria têm lugar neste consultório, em que até existe «uma área privada com um polibã para as crianças que vêm à consulta e se “descuidam”», conta Mércia Cabrera.
«Tratamento diferenciado»
Mas não são os equipamentos que marcam a diferença, e sim o que Mércia Cabrera apelida de «tratamento diferenciado». Segundo descreve, «abraçamos mesmo o cliente e quase que o pegamos ao colo». Tudo isto se traduz numa relação de grande proximidade, que se faz sentir no ambiente familiar, em que até as dificuldades económicas não são esquecidas, porque, como explica a médica dentista, «facilitamos os pagamentos para que a saúde oral não seja descurada».
Daí que uma das suas principais preocupações seja com a prevenção, pelo que não é pouco comum «um paciente entrar para tratar um dente e acabar por tratar a boca toda, mesmo não tendo disponibilidade financeira para o fazer naquele momento».
Esta sua postura leva a que a equipa se sinta extremamente gratificada quando recebem «um dos muitos casos de imunidade à cárie» em jovens e crianças que resulta desta política que seguem na clínica. Apaixonada pela profilaxia, Mércia Cabrera não tem receio de assim perder clientes no futuro, sendo mesmo taxativa ao afirmar: «quem me dera atender dez casos por dia e só fazer este tipo de tratamento». No fundo, o que a médica dentista gostaria era de «ver menos perda de dentes precoce, menos cáries e uma medicina dentária mais perfeita».
«Medicina dentária registou grande evolução»
Há dez anos em Portugal, Mércia Cabrera conta que «já vi muita coisa» e que muitos dos problemas dentários «são fruto das políticas seguidas nesta área». Contudo, em seu entender registou-se uma «grande evolução na medicina dentária» desde que chegou a Portugal. Exemplo disso é o facto de ao falar em higiene dentária «hoje já falamos a mesma língua com o cliente», porque antes, ao falar em escovar os dentes, «os pacientes viam quase como se os estivesse a mandar tomar banho».
Actualmente, a médica dentista diz já ser comum os pacientes questionarem qual a melhor pasta ou escova, bem como os cuidados básicos de higiene a ter.
Porém, apesar desta evolução, Mércia Cabrera confessa que «nem sempre é tarefa fácil» e que, por vezes, «gera inimizade entre colegas da classe», fruto de políticas erradas que foram sendo seguidas ao longo de muitos anos.
Mas o cenário tem vindo a mudar com a actual direcção da Ordem dos Médicos Dentistas, «porque temos um bastonário que é um braço de ferro e que tem feito muito pela medicina dentária portuguesa». Também neste campo considera que nem todos os colegas partilham da mesma opinião, mas para Mércia Cabrera «a melhor defesa é mesmo a prevenção» e o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO) é um «excelente promotor desta política».
Defensora do programa cheque-dentista, Mércia Cabrera graceja quando conta que recebe muitos clientes, «mas poucos pagamentos». Contudo diz que encara esta situação como «responsabilidade social do médico dentista».
Embora considere que «o programa ainda tem muito para crescer», acredita que, «se ficarmos todos de braços cruzados, a situação se torna ainda mais complicada».
Em seu entender, o PNPSO veio numa «excelente» altura e permite fornecer muitos cuidados básicos de saúde oral, numa região que tem ainda a «mais-valia» de ter uma «excelente» higienista oral no Centro de Saúde.
«Sem problemas em referenciar pacientes»
Sempre que recebe no consultório «um sorriso de 28 ou de 32 quilates», Mércia Cabrera faz uma “festa” e cria até incentivos para que os seus pacientes mantenham a dentição saudável. Porém, como em qualquer consultóriok, são muitas as bocas menos sãs que trata e entre os problemas mais comuns encontram-se «as cáries, a necessidade de substituir restaurações insatisfatórias, endodontia, cirurgias e próteses». Outro motivo que costuma levar os pacientes mais jovens à sua cadeira são os acidentes na escola, realizando «colagens e tratamento de fragmentos».
No fundo, como assume, o que se desenvolve nesta clínica beirã é «uma medicina dentária generalista», em que as únicas excepções são os implantes que «normalmente referencio para outro colega». E, mesmo nos casos em que conclui que não é a médica dentista mais indicada para realizar o tratamento não tem qualquer receio: «indico para quem possa prestar um melhor tratamento para o caso». Além disso, após o tratamento coloca-se sempre à disposição do outro colega para prestar os cuidados necessários no pós-operatório ou na manutenção posterior, «quando por exemplo o tratamento é realizado em Lisboa ou em Coimbra».
O factor “psicologia”
Outra situação frequente no seu consultório é a de pacientes que já passaram por outras cadeiras de médicos dentistas e que tiveram experiências traumáticas. Vencer o medo «é muito complicado», até porque, segundo conta, «há pacientes que chegam mesmo a fazer taquicardias e a entrar em crise nervosa». Nestes casos, revela que a melhor estratégia é o diálogo, «nem que se faça uma sessão apenas a conversar, sem qualquer intervenção».
«A psicologia assume particular relevância nestes casos», defende Mércia Cabrera que teve formação na disciplina durante cinco anos, no Brasil. E é também a sua vertente de psicóloga que lhe permite perceber a importância da saúde oral na vida de muitos pacientes, até porque, avalia, «o sorriso influencia a vida de uma pessoa». Exemplos disso são os casos de pacientes que se emocionaram quando viram o resultado final do tratamento, ou até o de um paciente com síndrome de Down que costumava atender no Brasil, que começou a falar na sua cadeira.
«Não trabalho apenas o factor estético»
Mas a importância do sorriso é muitas vezes associada apenas ao factor estético, situação que Mércia Cabrera gostaria de ver alterada. Daí que, «quando um paciente chega ao consultório e pretende apenas tratar os incisivos e tem problemas dentários nos molares, insisto na importância do tratamento daqueles dentes primeiro para a saúde oral da pessoa». E se o paciente insistir, a médica dentista é peremptória ao afirmar que não trabalha apenas o factor estético, pelo que se recusa a fazer o tratamento.
No fundo, considera que é necessário apostar cada vez mais na prevenção da saúde oral e na educação para a saúde para que sejam os próprios pacientes a ter noção desta necessidade. E, em seu entender, o caminho para lá chegar passa por «fortalecer o PNPSO» e «criar parcerias com a capacidade privada instalada».


